Texto e fotos: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá
No dia das mães de 2006, o Primeiro Comando do Capital, grupo organizado para proteger presidiários depois do Massacre do Carandiru, em 1992, lançou um “Salve Geral”. Era a ordem para matar policiais em todo o Estado de São Paulo. O pânico se espalhou pelas cidades enquanto oficiais da lei, fardados ou não, eram assassinados.
A ação só terminou quando um suposto acordo entre os criminosos e o governo foi fechado. Sem medo de emboscadas, a polícia estava liberada para dar sua “resposta”. Entre 12 e 20 de maio daquele ano ao menos 493 pessoas, quase todos jovens, negros e moradores da periferia, muitos com alguma ficha policial, foram mortos ou desaparecidos. É mais do que o número oficial de assassinados pela Ditadura Civil-Militar entre 1964 e 1985 (357). Para esses, contudo, não há uma Comissão da Verdade. Não existe NENHUM processo ou investigação oficial sobre essas mortes concluído ou em andamento.
Desde 2006, milhares de outras mães, assim como Maria mãe de Jesus, perderam seus filhos mortos pelas forças de um Estado opressor. Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pelo menos 18 mil pessoas foram executadas pela polícia brasileira entre 2003 e 2012. Mais do que qualquer país com pena de morte.
Ricardo, filho de Elvira Ferreira, auxiliar de uma universidade privada de Santos e assassinado depois de discutir com dois policiais em novembro de 2013, é só mais um exemplo a se somar a tantos rogérios, fábios, rodrigos… Por isso, todos os anos, no segundo domingo de maio, as Mães de Maio relembram seus entes queridos e lançam um grito por Justiça. Um berro de dor contra a impunidade. Um clamor para que se olhe, enquanto é tempo, pelos outros mários, marcelos, vitors, renatos, josés… Agora e na hora da nossa morte. Amém.
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